O destaque das mulheres no mercado de trabalho: progresso ou reflexo da opressão?

Sensorama Design

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Written by Gabriela Araujo; Maike Bento; Nicoli Sabino; Valesca Vieira & Tabitah Marques

A ascensão das mulheres no mercado de trabalho é frequentemente celebrada como um grande progresso. Mas será que essa valorização reflete apenas reconhecimento ou também revela as formas como as mulheres são conduzidas para certos espaços e papéis?

Em muitos casos, quando uma mulher é elogiada por “jogo de cintura” ou “resiliência”, está sendo valorizada por características que foram socialmente impostas a ela. Historicamente, acreditava-se que as mulheres eram naturalmente melhores em comunicação e empatia, e esse olhar parece ainda influenciar como elas são percebidas e promovidas no mercado.

Um protagonismo feminino que se formou naturalmente

Aqui na Sensorama Design, consultoria de inovação e design de serviços fundada em 2012 por Luisa Nogueira (CEO) e Mariana Torquato Rocha (COO), a liderança feminina surgiu de maneira orgânica. Atualmente (março, 2025), toda a liderança é composta por mulheres, não por uma imposição, mas porque foi um movimento natural. Como uma empresa certificada Women Owned, temos um compromisso sólido com a diversidade, inclusão e igualdade de gênero. Assim, a valorização do desenvolvimento de carreira acontece de forma ampla, dando a cada integrante do time oportunidades reais de liderança, crescimento e participação estratégica ativa.

Nos guiamos pela especialidade técnica e protagonismo individual, evitando estereótipos. Entretanto, entendemos que os desafios enfrentados pelas mulheres não são apenas uma questão de habilidade, mas sim resultado de barreiras estruturais. O sexismo no mercado de trabalho é real, e não compactuar com ele já é uma forma de resistência.

“Acredito firmemente que as mulheres têm potencial para superar os homens em muitos aspectos. A vivência como mães e profissionais nos traz desafios que muitas vezes passam despercebidos para os homens, como a necessidade de estar atenta à segurança ao atravessar a rua. Esses desafios nos ensinam a desenvolver habilidades essenciais, como jogo de cintura e assertividade, que são fundamentais para uma liderança eficaz.” — Mariana Torquato Rocha, COO da Sensorama Design

Ser mulher vem com desafios que nem sempre são visíveis — muitos deles ligados ao sofrimento, à violência e às consequências do machismo e do sexismo. Na Sensorama Design, não ignoramos essa realidade, mas vamos além. Nossa reflexão passa pela linha tênue entre reconhecer essas questões e, ao mesmo tempo, valorizar e aprimorar todas as nossas habilidades, não apenas aquelas que nos foram condicionadas por marcadores de gênero

O cenário atual das mulheres no mercado

Os desafios ainda são evidentes. Alguns dados ajudam a ilustrar a desigualdade:

  • Nos EUA, apenas 35% dos cargos em empresas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) são ocupados por mulheres. Na Europa, esse número cai para 22% (Women Tech Network, 2024).
  • 66% das empresas não possuem um plano de carreira estruturado para mulheres, dificultando seu crescimento profissional (GPTW, 2020).
  • No Brasil, o número de mulheres empreendedoras é alto, mas muitas estão em setores tradicionais, como beleza e serviços domésticos, com baixa presença em inovação e tecnologia (SEBRAE, 2023).
  • A área de User Experience (UX) tem um cenário mais promissor, com 51% dos cargos ocupados por mulheres. No entanto, a disparidade salarial persiste (Charleaux, 2023).
  • Apenas 10% de CEOs são mulheres, apesar de pesquisas indicarem que elas se destacam em liderança e gestão de equipes (HeForShe).
  • Empresas com mulheres em cargos de liderança apresentam melhor desempenho financeiro e foram mais eficazes na gestão da pandemia, por exemplo, segundo estudos da Harvard Business Review e da Credit Suisse (Credit Suisse, 2021; Forbes, 2021).

A representatividade feminina traz uma série de benefícios: mulheres líderes são reconhecidas por sua capacidade de mediação, comunicação e gestão de crises. Mas por que as mulheres são sempre associadas a essas soft skills, enquanto os homens são valorizados por técnica e objetividade?

O perigo da valorização seletiva

Muitas pesquisas enfatizam os soft skills das mulheres, o que, embora positivo, também reforça estereótipos de gênero. A ideia de que as mulheres são naturalmente mais empáticas e comunicativas pode limitar seu reconhecimento em áreas técnicas. Essa visão perpetua a divisão de papéis, colocando os homens em posições de decisão e as mulheres em funções de suporte.

Além disso, a interseccionalidade nos lembra que a experiência das mulheres no mercado de trabalho não é homogênea. Mulheres negras, LGBTQIA+ e de classes sociais menos privilegiadas enfrentam obstáculos ainda maiores, muitas vezes sem as mesmas oportunidades de ascensão que outras mulheres. Por isso, avançar significa reconhecer todas as competências e vivências, independentemente do gênero ou de outros marcadores sociais.

“Trabalhando na área de tecnologia, sempre tivemos que equilibrar e nos adaptar para sermos vistas e reconhecidas, não apenas como duas mulheres com ‘carinhas bonitas’, mas como profissionais empoderadas, com dados sólidos e conhecimento profundo sobre o que estamos falando. Não víamos mulheres em posições de diretoria conversando conosco.” — Mariana Torquato Rocha, COO da Sensorama Design

Dentro desse contexto, na Sensorama Design criamos um ambiente que reflete uma cultura de igualdade, onde a valorização feminina não vem da oposição aos homens, mas sim da busca por equidade. O reconhecimento profissional deve ser baseado em resultados, capacitação e contribuição real para o crescimento da empresa.

“Eu me sinto muito bem em fazer parte de uma empresa que tem um ambiente justo e saudável, sendo liderado por mulheres incríveis que eu admiro muito. Vemos tantas empresas por aí com ambientes extremamente tóxicos, e eu me sinto muito privilegiado por fazer parte de uma cultura como a da Sensorama.”
Rafael Zilli, Product Designer

Esse depoimento reforça o ponto essencial: não se trata de uma disputa entre gêneros, mas sim de um modelo de trabalho baseado em respeito, valorização do talento e igualdade de oportunidades. Ou seja, por um lado, é essencial celebrar as conquistas femininas, por outro, precisamos ter cautela para não transformar essa valorização em uma seleção limitada de habilidades consideradas “aceitáveis” para mulheres no mercado. Devemos questionar se a diferenciação entre habilidades femininas e masculinas realmente contribui para um ambiente de trabalho inclusivo, ou se toda uma estrutura de trabalho precisa ser reanalisada e remodelada para construir oportunidades mais equilibradas

“A estrutura da Sensorama não foi intencionalmente projetada para ter apenas mulheres na liderança, mas criamos uma empresa onde preferimos trabalhar com mulheres para fazer a diferença. Nossa liderança, a maior parte cresceu com a gente, então é um processo natural, nosso time já é majoritariamente feminino. Esse compromisso está enraizado em nossa cultura e permeia desde nossa seleção até nossa interação com clientes, onde defendemos que as mulheres devem falar por si mesmas. Somos mulheres feministas e queremos promover mulheres nesse ambiente.” — Luisa Nogueira, CEO da Sensorama Design

Valorizar o papel das mulheres no mercado de trabalho é fundamental, mas essa valorização precisa ser real e abrangente. Criar um ambiente onde a diversidade seja genuinamente reconhecida e onde todos tenham acesso igualitário a oportunidades vai muito além de celebrar datas ou destacar casos individuais de sucesso.

Na Sensorama, buscamos criar espaços para reflexão e discussão sobre diversidade e inclusão. Esta própria leitura, surgiu como resultado de um grupo de discussões feito com o time internamente, ao perceber o quanto era importante, em uma empresa “fora da curva”, compartilhar algumas das reflexões que já fazem parte natural do nosso dia a dia, reforçando nosso posicionamento diante do mercado de trabalho. Afinal, a Sensorama Design tem a inovação no core, não só nos seus projetos, mas também em sua cultura e o futuro da liderança não depende apenas de abrir espaço para mulheres, mas sim de garantir que elas sejam reconhecidas e estimuladas para trabalhar todas as suas capacidades, sem limitações impostas pelo gênero.

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